luz e sombra na arquitetura
LIGHT AND SHADOW IN ARCHITECTURE
ombre et lumière dans l'architecture

4 de out. de 2011

noite 2


























Casa Batlló ("casa dos ossos"): Barcelona, Espanha, 1906, por Antoni Gaudí 
CASA BATLLÓ ("HOUSE OF BONES"): BARCELONA, SPAIN, 1906, BY ANTONI GAUDÍ 
Casa Batlló ("maison des os"): Barcelone, Espagne, 1906, par Antoni Gaudí
Continuando a série sobre iluminação de fachadas, esta imagem mostra a Casa Batlló ressaltando aos olhos em relação aos prédios vizinhos. Ela é constituída de dois edifícios que possuem uma ligação de forma cilíndrica, com térreo, andar principal, quatro andares e mansarda. Sua fachada, recoberta com “trencadís” (técnica tradicional na região que consiste em revestir uma superficie com pedaços coloridos de cerâmica que teriam sido desperdiçados) cria uma ondulação suave e um efeito cromático excepcional, sendo um perfeito suporte para a mansarda curvilínea, ascendente e descendente, com textura semelhante a escamas de peixe. O grande espaço interno é como uma outra fachada, quase como uma outra casa. Possui um revestimento cerâmico que varia do azul ao branco, o que contribui ainda mais para o efeito marinho do edifício. Na entrada e na sala de jantar do piso principal e no térreo observa-se que o arquiteto fugiu totalmente das linhas retas. Todo esse conjunto, incluindo as formas esculturais dos móveis, formam um ambiente relaxante, quase mágico.

Para saber um pouco mais sobre a vida e a obra de Gaudí e sobre o movimento Art Noveau da história da arquitetura:

Antoni Gaudí nasceu em Reus (Tarragona), povoado do interior da região da Catalunha, Espanha, em 1852. Estudou na Escola Provincial de Arquitetura de Barcelona, entre 1873 e 1878. Na universidade, colecionava gravuras greco-romanas, latinas e bizantinas, obcecado que era pela cultura mediterrânea e oriental. Gaudí era um leitor assíduo de Viollet le Duc, pelo qual foi profundamente influenciado. Le Duc afirmava que as “formas da Natureza são belas, desde um carvalho até um inseto. A forma indica claramente para que fim foi produzido. A máquina é a expressão exata da função que desenvolve. É deste ponto que parte o pensamento e os estudos de Gaudí, refletidos em sua arquitetura.

Ainda estudante, trabalhou em um escritório de arquitetura, no projeto de uma das obras mais importantes que estavam sendo realizadas em Barcelona: o Parc de la Ciutadella.

Seus primeiros projetos como arquiteto independente foram: revérberos (lâminas metálicas que aumentam a intensidade da luz, concentrando-a em certa área) para a Plaza Real e a iluminação para a Muralla de Mar, ambos em Barcelona, e a Cooperativa Operária Mataronense, em Mataró.

Em 1883, Gaudí recebeu a tarefa de continuar a obra do Templo Expiatório da Sagrada Família, que já havia passado por dois arquitetos. Dedicou-se simultaneamente ao projeto e à construção dessa obra até o fim de sua vida. O templo está até hoje em construção, sendo o trabalho mais conhecido de Gaudí e cartão-postal de Barcelona.

Sua vida profissional pode ser dividida em duas etapas. No início da carreira, Gaudí esforçou-se para encontrar um estilo próprio, nacionalista, buscando influência em diversas culturas e estilos: arquitetura mulçumana (Casa Vicens e Villa El Capricho); arte gótica (Palau Güell, Convento Teresiano, Palácio Episcopal de Astorga e Casa Fernandez Andrés); arte barroca (Casa Calvet, Torre Bellesguard). Interpretava tais estilos de uma forma pessoal, sempre tendo como base o estudo da natureza como fonte inesgotável de inspiração.

Na segunda etapa Gaudí abandona estilos históricos e adquire formas livres, universais. As obras mais importantes desse período são: o Parque Güell, a Casa Batló, a Casa Milá, as Escolas da Sagrada Família e a Cripta da Colônia Güell, além do inacabado e monumental Templo da Sagrada Família, que sintetiza todo o trajeto arquitetônico gaudiano.

Mas antes de estudarmos a obra de Gaudí é importante entendermos o contexto artístico e social em que ela se desenvolveu. Na Europa, o fim do século XIX caracteriza-se pelo ecletismo artístico, ou seja, uma mistura de estilos. Coexistiam o Movimento de Artes e Ofícios, os Pré-Rafaelitas, o Simbolismo, o Pós-Impressionismo, o Pontilismo, o Divisionismo, os Nabis, etc. 

A arquitetura, em particular, entra em crise ao não apresentar novas soluções técnicas e estilísticas, baseando-se na repetição de movimentos artísticos (neo-classicismo e neo-romantismo).

Esse momento de indefinição se desfaz com o surgimento do movimento chamado Art Noveau, que abrange a última década do século XIX e as primeiras do século XX. Neste período, buscava-se inspiração nas formas da natureza, utilizando linhas sinuosas, formas ondulantes e assimetria. O estilo abrangia principalmente a ornamentação de portas, janelas, móveis, paredes e objetos.

Na Catalunha, onde a burguesia estava em plena expansão e procurando diferenciar-se do resto da Espanha, surge um movimento correspondente ao Art Noveau, porém com uma expressão mais regionalista. Buscavam uma arquitetura nacional, valorizando os materiais e costumes locais, tendo como base motivos florais.

A obra de Gaudí segue uma trajetória de certa forma isolada, pois sua obra, apesar de estar no contexto do Art Noveau, possui características especiais, absolutamente pessoais e muitas vezes difíceis de definir. Seu estilo é mais robusto, estrutural e tridimensional que o característico do Art Noveau.

Gaudí empregava materiais de sua região, como o azulejo, o tijolo e a pedra, herdados de tradições árabes e romanas presentes na Catalunha. Foi quem primeiro utilizou o cimento armado na Espanha. O ferro e posteriormente o aço permitiram o uso de novas formas. Fez estudos para utilizar barras metálicas na construção dos elementos da Sagrada Família, o que hoje está sendo feito, com a continuação das obras em concreto armado.

Gaudí pesquisou as origens e o sentido da estética, e chegou à conclusão que as formas encontradas na natureza expressam suas necessidades funcionais. Passou então a estudar as formas estruturais mais perfeitas conhecidas, até descobrir o parabolóide hiperbólico, que seriam mais tarde empregados nos pavilhões de entrada do Parque Güell.

Referências bibliográficas:  
GÜELL, Xavier. Antoni Gaudí. São Paulo, Martins Fontes, 1994 (trad. Eduardo Brandão).
REYNOLDS, Donald. A Arte do Século XIX. São Paulo, Círculo do Livro (trad. Álvaro Cabral).

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